ÁLBUM: Luka - Céu de Diamantes
★★★★★ (5/5)
Depois do sucesso no primeiro álbum, em 2003, Luka tomou um susto. A repercussão foi tanta com os hits "Difícil Pra Você", "Porta Aberta" e "Tô Nem Aí", que esta última foi importada para a Europa e se tornou um dos maiores sucessos por lá também, entrando nos principais charts internacionais. Após a estreia assustadoramente grande, no entanto, Luka fez o caminho oposto do imaginado: rompeu com a Sony e esperou 3 anos para lançar um novo álbum.
É algo bastante comum em outros países entre artistas que buscam reconhecimento crítico e não o mercado mainstream, o conhecido processo anti-Hollywoodiano. Seu segundo álbum, Sem Reposta (2006), focava no poprock mais orgânico, num clima parecido com Cássia Eller e Megh Stock. Nem mesmo o retorno à Sony com O Próximo Trêm (2009) fez Luka voltar às origens ou dar continuidade nela. O disco enveredou pelo indie rock, pouco radiofônico embora maduro.
Eis que, após reencontrar seus velhos produtores, Luka decidiu enfim retornar ao mercado pop mainstream este ano com o álbum Céu de Diamantes. Talvez tenha percebido que se pode ter respeito mesmo sendo pop, talvez tenha visto que o momento é bom para o gênero no Brasil ou talvez tenha notado sua nítida falta no mercado – e, sim, ela fez.
Céu de Diamantes não tem uma grande gravadora por trás, foi lançado pela independente Videobes, mas transborda composições refinadas, produções excelentes e, acima de tudo, talento em seu estado de maior valia. O álbum passa longe do genérico eletrônico tão usado por algumas artistas da noite e também do atual popfunk. É um álbum original, com faixas bastante diferenciadas uma das outras e produções trabalhadas com o cuidado de soar tão boas quanto as antigas, mas ao mesmo tempo contemporâneas.
Não seria um erro dizer que o álbum de Luka é o melhor trabalho lançado este ano na música pop brasileira, mas seria injusto, visto que não tivemos muitos lançamentos inéditos ainda. Para ser mais claro, Céu de Diamantes certamente foi o disco mais homogêneo e bem trabalhado dos últimos anos do gênero no Brasil, com destaque para "Vitaminada", "A Vida É Andar, Andar", "U.T.I." e a faixa-título, todas radiofônicas e prontas para serem ótimos singles.
Céu de Diamantes pode não ser um sucesso – dificilmente será em uma gravadora independente –, mas sua qualidade é inegável. Em uma época onde ser original está cada vez mais difícil para as artistas mais recentes e se reinventar se torna um martírio para as veteranas, Luka é o nome que veio para salvar nossos dias.
Confira a crítica detalhada abaixo.
Faixa à faixa
"Céu de Diamantes”: A faixa-título abre o álbum da melhor forma possível. A batida inicial ainda nos deixa em dúvida, porém a partir do verso “O meu amuleto é o sol...” a certeza vem: Luka-pop vive novamente! A composição é de bom gosto, contando a história daquele amor avassalador à primeira vista levando-nos do “chão de terra” ao “céu de diamantes” em meio-minuto. Sem dúvidas foi a escolha mais certa de Luka como primeiro single do álbum, é o mais puro pop nacional sem cair para algo piegas ou apelar para o eletrônico genérico.
“Livro Aberto” quebra o clima dançante e nos leva para um relacionamento em ruinas com batidas fortes de violão unidas à mixagem pop no maior estilo emotional. Tem como não se sentir tocado?
“Marmelade”: A introdução nos faz subestimar a faixa, mas isso fica para trás quando Luka começa a cantar delicadamente e, ao chegar no refrão, a surpresa: a mistura de country americano com pop. Bastante original, é uma das faixas para se ouvir naquela tarde ‘deboista’.
“Vou Te Pegar”: Se Latino é bom como produtor, como convidado especial se torna um erro. A letra, de gosto duvidoso, não deixa dúvidas que só poderia ter vindo dele. Essa acaba sendo a única faixa realmente dispensável do álbum.
“Fala Com a Minha Mão” nos traz de volta a Luka do começo da carreira, quando era tão comparada à cantora Shakira e isso é ótimo. Com um sampler de “Vida de Negro”, de Dorival Caymmi, no refrão (sim, “Lere, lere” é aquela mesma da novela A Escrava Isaura) a música é uma das melhores do álbum e faz jus ao clima latin pop.
“Viajantes do Tempo”: A letra profunda e a produção refinada com violinos no pré-refrão mostram uma música que poderia muito bem ter sido gravada pela banda Kid Abelha ou pelo cantor Lulu Santos e se tornado um dos maiores hits da carreira de ambos. Inegavelmente funciona muito bem na voz apurada de Luka. Um deleite!
“Caixa Postal”: Com um clima mais introspectivo no começo, a faixa nos deixa com a sensação de que não é tão boa quanto “Viajantes do Tempo”. Isso até chegar o refrão e a estrutura mudar completamente, nos jogando direto nas pistas de dança no maior clima de supresa. Impossível não se contagiar e cantar um improvisado “tchuru tchururu” por cima do pós-refrão.
“A Vida É Andar, Andar”: Apesar de quase tudo até aqui ser incrível, era inegável que nada poderia ser superior à “Céu de Diamantes”. Mas pode. A faixa é sem dúvidas a melhor do álbum, trazendo uma letra bem estruturada e que se desenrola numa produção divertida. A participação de Liah é doce, mas o rap de Daddy Kall certamente é a cereja do bolo, nos levando de volta à “Difícil Pra Você”. A mais radiofônica do álbum é um potencial single pronto para estourar.
“U.T.I”: A mais divertida do álbum consegue manter a qualidade da anterior. Tem como não amar esse refrão cheio de remédios que nós tanto conhecemos? Impossível não cantar junto.
“Você Me Olha” brinca com a música eletrônica de forma radiofônica, embora a letra desta não seja tão empolgante quanto suas batidas.
“Vitaminada” é outro potencial single pronto do álbum. Em tempos onde temos cada vez mais o poder feminino de volta ao foco, a composição da faixa está pronta para se tornar o próximo hino feminista. A mistura de música pop com surf-music dá o clima de hit do verão.
“À Toa” fecha com chave de ouro o disco. É realmente decepcionante quando um álbum bom termina com uma faixa “enche-linguiça”, daquelas que está ali apenas para concluir a quantia necessária. “À Toa” passa longe disso e deixa um gosto de quero mais que nos leva de volta ao começo do álbum ouvir tudo de novo no mesmo instante.