SINGLE: Karol Ka - Selfie Colado
★★★★★ (2/5)
Karol Ka tem um histórico longo em busca do sucesso. Apesar de talento, uma voz potente e domínio na arte da dança, a cantora sempre enfrentou dificuldades para se estabelecer no mercado. Lançou o álbum gospel Não Pare (2003), foi backing vocal de Sidney Magal e Latino, participou da girlband Kandies e até esteve no elenco de duas produções da Disney Channel Brasil: Quando Toca o Sino e HSM: O Desafio.
Mas o público veio a conhecê-la mais pelas participações em talent shows, que encabeçam uma longa lista: Idolos (2007), Country Star (2007), HSM: A Seleção (2008), The Voice Brasil (2012), Fábrica de Estrelas (2013) e até o concurso de covers do Domingão do Faustão (2013). Apesar de não ganhar nenhum deles, acabou conquistando seguidores que a apoiaram quando tentou lançar-se independente com as faixas "Mil Segredos", "I Like It”, "Me Beija" e “Pedra Preciosa” – todas com videoclipes.
Dez anos depois a sorte realmente lhe bateu a porta. Recentemente Karol criou laços com a queridinha do momento Valesca, adicionou uma dose de popfunk ao cardápio e entrou para o reality show Lucky Ladies, que deu-a a chance de finalmente assinar com uma grande gravadora, a Universal Music.
“Selfie Colado” é o primeiro single oficial de sua carreira. Tão aguardado, quanto controverso. Em primeiro ponto, a faixa tem uma das melhores produções do ano com uma batida pop que não perde nada para os trabalhos gringos, misturando ainda música árabe no maior clima ‘festa no deserto’. Nos remete aos climas originais criados por “Rich Girl”, de Gwen Stefani, “Sımarık”, de Tarkan, e “Vem, Habib (Wala Wala)”, da girlband Rouge. E isso é ótimo. Os vocais de Karol também se apresentam em seu melhor momento, concisos, graves e sem as firulas que os jurados dos programas sempre pediram para ela perder – e agora finalmente ela fez!
Porém quando paramos para prestar atenção na letra é impossível não sentir uma decepção. Não com Karol, mas com quem deixou-a entrar em estúdio para gravar versos tão pobres como “Carreguei o meu celular / Bateria não vai acabar / Na hashtag eu vou colocar ‘que festa maneira’”, que se agravam quando chega no refrão em “Biquinho, sorriso / É só me curtir que depois eu te sigo”. Poderia ser perfeitamente um jingle de comercial de smartphone. A sensação é um pouco de vergonha alheia, pendendo pra algo um tanto cafona. Temos a nítida impressão que seria algo que poderia ser gravado por Latino e isso nunca é bom.
A questão é: É realmente essa imagem que a Universal pretende comercializar de uma artista tão talentosa e completa como Karol? Muitas pessoas nas redes sociais rebateram que outros artistas tem composições fracas também, citando os atuais “Na Batida” (Anitta) e “Sou Dessas (Valesca) e a antiga “Ragatanga”. Porém letra sem conteúdo aprofundado é diferente de letra ruim. As citadas, por exemplo, tem objetivos bem simples – seja sobre curtir a noite, ou reafirmar a mulher –, mas não soam como propagandas e banalidades.
Com “Selfie Colado” Karol Ka perde a chance de utilizar uma produção perfeitamente bem trabalhada, utilizando uma letra medonha. Certamente a faixa não deve emplacar nas rádios, a menos que seja incluída em alguma trilha sonora como “Cara de Rica”, de Erikka Rodrigues, faixa tão medonhamente ruim quanto “Selfie Colado” e que emplacou apenas depois de tocar constantemente em Império, da Rede Globo.
A expectativa é que no próximo lançamento Karol busque uma composição tão boa quanto produção desta, para que haja homogeneidade. Não há nada de errado em apostar em temas típicos atuais, como o poder feminino e a curtir a noite com as amigas. Ainda que genérico, seria menos constrangedor.